Walter Carvalho | “Iluminuras” | 12 de mai - 24 jun 2022
Da fotografia às "Iluminuras"
Paulo Sergio Duarte
Ninguém que se interesse por arte, particularmente, pela fotografia, passa indiferente pela obra de Walter Carvalho. Esse trabalho, que se estende por quase cinco décadas, atravessa desde a tradicional fotografia analógica até a digital, a direção de fotografia de cinema, e a de realizador. Todos esses conhecimentos marcados pelo rigor e pela excelência. De repente, agora, aparece uma nova experiência que o autor chama de “Iluminuras”.
Não se trata de uma nova espécie de fotografia: são todas obras únicas. Não há possibilidade de reprodutibilidade técnica. Ainda que uma mesma imagem seja retomada, não é uma cópia de uma experiência anterior porque os papéis, de elevada qualidade, foram emulsionados à mão. A emulsão foi aplicada como faz um pintor que trabalha com vastas e generosas pinceladas. Acrescente-se que não se trata da tradicional emulsão de prata presente nos papéis fotográficos industrializados. A emulsão, de custo muito elevado, é de platina. Mero capricho do artista? Não. A emulsão de platina dispensa a câmara escura para receber as pinceladas que irão impregnar o papel, o trabalho pode se desenvolver em ambientes iluminados normalmente, o que permite um maior controle, além de o aproximar ainda mais da experiência da pintura.
Ao escolher “Iluminuras” para nomear essas novas experiências artísticas, o autor nos leva logo à lembrança das ilustrações dos livros manuscritos da Idade Média. Esquecemos, assim, que a palavra iluminuras deriva de um importante conceito na história da arte: iluminação. O chiaroscuro que observamos de forma discreta e delicada num detalhe do seio esquerdo de La Fornarina, 1518-1519, de Rafael (1483-1520), ou de forma exaltada e elevado contraste em tantas obras de Caravaggio (1571-1610) são efeitos da iluminação. E se alguém entende de iluminação é Walter Carvalho, como demonstrou na preciosa direção de fotografia de Lavoura arcaica [1].
Não tenho dúvida de que, nessa exposição, estamos diante de uma experiência estética inédita, marcada por um expressionismo contemporâneo sublinhado pela potência das pinceladas da emulsão, pelas variações que estas alcançam e, ainda por cima, por contrariar a principal característica da fotografia: sua possibilidade de infinita multiplicação. Profundo conhecedor da história dessa arte, o artista faz uma homenagem e uma citação. As “iluminuras” que trazem as guimbas de cigarro citam diretamente o grande fotógrafo americano Irving Penn (1917-2009) na obra Cigarette No. 17, New York, entre outras, realizada em emulsão de platina [2].
Não satisfeito com tanto ineditismo, Walter Carvalho me conta que a montagem obedecerá a um ritmo próprio, eventualmente levando o espectador a baixar os olhos para apreciar algumas obras. Estaremos no interior de uma experiência única e isso nos levará ao contato com uma rara transformação de linguagem no interior da fotografia.
Rio de Janeiro, maio de 2022.
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[1] Lavoura arcaica, 2001. Roteiro, montagem e direção de Luiz Fernando Carvalho. Baseado no romance homônimo de Raduan Nassar.
[2] Cigarette No. 17, New York, 1972, impressa em dezembro de 1974. Coleção The Art Institute of Chicago. Ver: https://www.artic.edu/artworks/157089/cigarette-no-17-new-york. Acessado em 06/05/2022.
Sobre o artista:
Fotógrafo e cineasta, é formado em Design Gráfico pela Escola Superior de Desenho Industrial do Rio de Janeiro (ESDI). Desde 1972, desenvolve intensa atividade como profissional da imagem: em fotografia, no cinema e na TV. No cinema, foi responsável pela direção de fotografia de Lavoura arcaica, Abril despedaçado, Madame Satã, Central do Brasil, Amarelo manga e Terra estrangeira, entre outros. Conquistou o Golden Frog, no Film Festival of Cinematography Camerimage, com Central do Brasil, e The International Cinematographers Film Festival "Manaki Brothers" por três vezes. Conquistou a Golden Camera com os filmes: Terra estrangeira, Central do Brasil e Lavoura arcaica. Seu percurso duplo de fotógrafo e cineasta reflete-se em todo seu trabalho autoral. Conta com diversas publicações, como o livro “Contrastes simultâneos” e “Fotografias de um filme”, ambos da Cosac Naify; “Walter Carvalho – Fotógrafo”, editado pelo IMS (2003), “Terra Estrangeira, Leitura das imagens do filme Terra Estrangeira”, Ed. Dumará. Em cinema, recebeu mais de 80 prêmios nacionais e internacionais. Em fotografia, destacam-se os prêmios no Concurso Nacional de Fotografia da Revista Realidade, 1972; e o primeiro lugar no Concurso Nikon (Viagem ao México), 1973. Suas últimas exposições foram “Retraço”, no Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo, 2018, com texto de Texto Agnaldo Farias; e no Paço Imperial do Rio de Janeiro, 2019. Sua obra fotográfica integra as coleções do Museu de Arte do Rio (MAR), do Maison Européenne de la Photographie (MEP-Paris), da Coleção Pirelli/Masp, do Instituto Moreira Salles, do Museu de Arte Moderna (São Paulo) e da Coleção Fnac, entre outros. Integra a “Photographers Encyclopaedia International, 1839 to the present”. É membro da Academia de Cinema de Hollywood. Participou de mais de 30 exposições de fotografia no Brasil e no exterior. Como artista, é representado pela Mul.ti.plo Espaço Arte.
Serviço:
Exposição de arte Título: Iluminuras
Artista: Walter Carvalho
Abertura: 12 de maio (quinta-feira), das 17h às 20h
Exposição até 24 de junho (sexta-feira)
Local: Mul.ti.plo Espaço Arte Tel: +55 21 2259-1952
Novo horário: segunda a sexta-feira, de 11h às 18h
End: Rua Dias Ferreira, 417 - 206 - Leblon - Rio de Janeiro
Entrada franca