Marcone Moreira | Deslocamentos | 24 out - 25 nov 2017

 

D e s l o c a m e n t o s

Iniciei minhas experimentações artísticas no inicio dos anos 2000 e, a partir de então, venho participando de diversas exposições pelo país e no exterior. A obra abrange várias linguagens, como a produção de pinturas, esculturas, vídeos, objetos, fotografias e instalações.

Meu trabalho está relacionado à memória de materiais gastos e impregnados de significados culturalmente construídos, e resulta de uma metodologia de trabalho em que interessa a apropriação, o deslocamento e a troca simbólica de materiais.

Nesse processo, é cada vez mais presente a necessidade de realizar viagens de localização e coleta de materiais em contextos diversos. As madeiras usadas em meios de transportes, como embarcações e carrocerias de caminhões, sempre tiveram especial atenção do meu olhar.

Para a exposição na Mul.ti.plo, irei apresentar um conjunto diversificado e coeso das pesquisas realizadas nos últimos dois anos de produção – cerca de 12 objetos e esculturas, além de uma nova série de desenhos, os quais têm como ponto de partida o contorno de uns porretes de madeira usados na extração da amêndoa do babaçu, coletados no estado do Maranhão. Por meio de um procedimento rudimentar que emprega uso de machado, os objetos sofrem um desgaste, ganhando formas diversas. Com isso, iniciei uma série de desenhos, buscando não apenas a representação, mas a tradução desses artefatos em outras linguagens, com o uso de vários tipos de grafite e com gestos densos. Os desenhos acumulam um emaranhado de traços e marcas, remetendo ao desgaste encontrado nos objetos.

Com esse conjunto de obras reunidas, afirmo algumas questões que me importam, como a pintura, que tem sido um dos eixos estruturais do meu trabalho. Mais recentemente tem ficado cada vez mais evidente meu interesse também por algumas formas específicas de conhecimento, modos de trabalhos e os artefatos resultantes desses processos (como os usados por carpinteiros navais, vendedores ambulantes, quebradeiras de coco babaçu, artesãos e outros). A partir dessas constatações, a obra está apontando para desdobramentos futuros, como bem observou o crítico Moacir dos Anjos: “Ao manter as tensões formais que desde o início conferem singularidade a seus trabalhos e sem jamais reduzi-las à discursividade, Marcone Moreira logra gradualmente adicionar, a elas, dobras políticas e menções a jogos de força sociais”.

Marcone Moreira