Eduardo Sued - 90 anos | 30 de jun - 15 de ago | 2015


Dono de uma obra única, notável colorista e um dos maiores artistas brasileiros, Eduardo Sued completa 90 anos. A Mul.ti.plo Espaço Arte celebra esta data com uma exposição de pinturas e objetos – recentes e inéditos, porque ele não para de trabalhar. A mostra, a partir do dia 30 de junho, reúne 25 obras, entre pintura (óleos sobre tela, com dimensões que vão de 30cm x 30cm a 1m x 1m) e objetos em madeira. 

Único artista desta idade em plena atividade morando no Brasil, Sued é um mestre. Que não deixa discípulos. Não apenas pela maestria com que trata suas cores – únicas –, mas como ocupa o vazio da tela. Esse trabalho de composição possibilita que cores absolutamente improváveis de conviver entre si estejam lado a lado, ora em harmonia, ora em conflito. O importante é o resultado poético.  “A composição foi a maneira que ele encontrou para abrigar as cores de sua obra, que tem uma originalidade e uma densidade únicas. Os volumes de seu trabalho propiciam novos contrastes e este é um dos motivos pelos quais ele é definitivamente contemporâneo, apesar dos 90 anos de idade”, afirma o consultor de arte Maneco Müller. “Eduardo Sued construiu sua linguagem. E, por enquanto, ninguém conversa na língua dele. Não há alguém que faça nada parecido”, completa.

O crítico de arte Paulo Sérgio Duarte está sempre sendo surpreendido pela obra de Sued. “É um dos maiores coloristas brasileiros, um dos mais inteligentes da cor na pintura”, atesta o crítico, enfocando principalmente seu trabalho a partir dos anos 1980 – e, mais tarde, nos 90, quando sua pincelada, que até então passava quase despercebida (ou era percebida apenas pelos olhos mais atentos), se torna mais expressiva. Nessa época o artista também acrescenta o uso do preto, mas sempre em contraste com outras cores surpreendentes, como lilases, azuis escuros, verdes, e até marrons. “O que acho espantoso no Sued é que mesmo aos 90 anos ele consegue se renovar, na medida em que introduz movimentos inéditos no trabalho. Estas telas recentes têm elementos em diagonal que atravessam a tela, e que são novidades em sua pintura”, afirma Paulo Sérgio Duarte.

O vigor e a potência de seu trabalho continuam presentes na longa vida do artista. “Noventa anos? Tenho, mas estou bem vivo!”, decreta. “Eu não sinto nada de diferente. Noventa, 89, 25 anos, é a mesma coisa. Não existe uma ‘sensação’ diferente. Apenas vivo há mais tempo”, diz Sued, que só olha pelo retrovisor de vez em quando. “A gente pode olhar pro retrocesso. E pensar: nossa, quanta coisa aconteceu, quantas exposições, quantas pessoas... Esse conjunto de gente e acontecimentos me emociona. Mas eu tenho que pensar pra frente: nesta exposição da Mul.ti.plo, na próxima, em 2016, em São Paulo. Este acúmulo de coisas projetadas, e perseguidas, é o que mantém uma pessoa viva”, afirma.

Em seu incrível ateliê em Jacarepaguá, com pé direito altíssimo e distante da agitação da cidade, Eduardo Sued trabalha todos os dias. “A cabeça tem que estar sempre ocupada, as mãos produzindo”, ele diz. O resultado são as incríveis cores que convivem de forma única em sua obra.
 

Eduardo Sued

Rio de Janeiro, 1925

Seu primeiro contato com a cor foi através de aquarelas, em 1948, quando estudou com Henrique Boese, herdeiro do expressionismo europeu. De 1951 a 1953 viveu em Paris. Frequentou a Académie Julien e a Académie de la Grande Chaumière, onde fazia desenhos de modelos vivos. Durante a estada na França entra em contato direto com as obras da École de Paris, de Pablo Picasso, Miró, Matisse e Georges Braque. De volta ao Brasil, passa a trabalhar com gravura em metal, sendo aluno de Iberê Camargo – e a figuração das gravuras já se revelava moderna, com certa fragmentação. 

O interesse por grandes áreas cromáticas e a busca por mais plasticidade levam o artista a se dedicar de forma cada vez mais intensa à pintura, em meados dos anos 1960. Em sua primeira individual, de pinturas, guaches e aquarelas na Galeria Bonino em 1968, os críticos já chamavam a atenção para a fusão da geometria com a figura, como Walmir Ayala, que descrevia o trabalho como uma “conjugação da abstração geométrica com a livre distribuição de formas do subconsciente, criando uma caligrafia do espiritual”. 

Sued nunca participou ativamente de nenhum movimento, se mantendo distante das disputas entre concretos e neoconcretos nos anos 1950 e das discussões sobre a nova figuração dos 1960. Vai formando sua poética abstrata pouco a pouco; após um breve período de produção figurativa, conquista já no início dos anos 1970 o domínio seguro da linguagem construtiva.

Segundo a Enciclopédia Itaú Cultural, “Eduardo Sued não cristalizou sua linguagem abstrata em estruturas preconcebidas (...). Tal exercício se expressa numa trajetória que reinventa constantemente seus desafios e soluções. Destacam-se no conjunto dessa obra as telas, desenvolvidas desde os anos 1980, de vastas áreas cinzas ou pretas entremeadas de modo preciso por faixas coloridas, num jogo sóbrio, mas vibrante, de expansão e contenção. Em meados dos anos 1990, introduz elementos novos em seu trabalho, como a tinta de alumínio e pinceladas espessas e descontínuas de modo que a superfície pareça ‘quase esculpida’, além de retornar à colagem, presente nos anos 1960 e 1970. Tais composições apresentam uma reflexão acurada sobre as relações entre luz, superfície, espaço e tempo na pintura, reafirmando mais uma vez a posição do artista como um constante ‘desinibidor’ na arte brasileira.”