Daniel Feingold | Pintura em fluxo | 13 ago - 28 set 2013
Dinamismo, energia, caos, ansiedade contemporânea, urgência urbana. Tudo isso já foi dito sobre as pinceladas rápidas, os traços finos e as tramas emaranhadas da obra de Daniel Feingold. Ele concorda. “Procuro ir diminuindo esse espaço entre o racionalizado e a pulsão primordial do sujeito atacando a superfície”, diz. A partir de 13 de agosto, 26 pinturas inéditas, em esmalte sobre papel, vão percorrer as paredes da Mul.ti.plo Espaço Arte, com a urgência da arte sem filtro de Feingold.
Esta série – ou 22 dos trabalhos em exposição – começou na longa estada do artista em Nova York. Foram 10 anos morando lá. E durante este tempo, trabalhou muito usando o papel como suporte. Já com a ideia da rapidez do processo de criação. “No papel ia soltando o pensamento, havia menos preciosismo no toque, no manuseio e muito mais celeridade”, conta.
Embora sejam inéditas no Brasil, as obras não são de uma produção recente – vão do final da década de 1990 até meados dos anos 2000. Mas isso não importa muito para Feingold. “Uma coisa que acho bacana na Mul.ti.plo é que eles fazem com que o artista vasculhe suas gavetas, resgate um trabalho nunca mostrado mas que gostaria de expor”, explica o artista, que em setembro irá mostrar uma nova série no MAM.
Para Feingold, estas séries não são uma aventura expressionista, nem partem do que foi proposto pelos surrealistas nos desenhos automatistas, porque há uma certa organicidade e ordenamento nesta pulsão acelerada. “Enfatizo muito a agilidade, para que a ideia não passe por uma censura ou racionalidade castradora. Como sempre trabalhei com a linha em sua característica estruturante, acho que o traço sempre foi um instrumento condutor da espacialização do plano bidimensional. Trabalho dentro deste conceito – e a partir daí tudo pode acontecer.” As linhas finas tornam-se emaranhadas, com a tinta escorrendo por uma espécie de bisnaga (“Como essas de ketchup”, explica), deslizando sobre o papel, e sem contato com a mão do artista.
As quatro pinturas restantes são mais recentes e já tomam caminho diferente: se nos outros há sempre o branco do papel por trás, nestes há um trama mais complexa de camadas que vão se ajeitando, criando uma tensão interna. São pinceladas largas, feitas com trincha, quase monocromáticas em preto e prata, em papel com maior gramatura.
A exposição na Mul.ti.plo ainda terá uma gravura inédita do artista, feira especialmente para a mostra.