Eduardo Sued | 20 set - 19 nov 2016


Eduardo Sued é um menino. De 91 anos. Um dos maiores coloristas da arte brasileira continua em plena ativa: acaba de expor em São Paulo e, a partir de 20 de setembro, inaugura uma individual – com 20 obras inéditas – na Mul.ti.plo Espaço Arte. Como se não bastasse a produção ininterrupta, Sued ainda surpreende: o que será mostrado na galeria do Leblon é uma evolução. Resultado, segundo o consultor da Mul.ti.plo Maneco Muller, de uma “sabedoria pictórica” que o artista adquiriu ao longo da carreira.

“Isso vem acontecendo cada vez mais ao longo dos anos. Sua pintura se oferece com uma simplicidade extraordinária, coisa que só os grandes mestres conseguem”, diz Maneco. A principal característica desse conjunto de obras que será exposto é um foco absurdo nos volumes. “Sua pintura nunca esteve tão ‘fora da tela’. Você olha e ela explode para fora”, identifica o consultor.

Além de 18 telas, integram a mostra dois objetos em madeira, um múltiplo em acrílico e duas gravuras em metal – que marcam a volta do artista a esta técnica. Em 1953, Sued inicia estudos em metalogravura com Iberê Camargo, e passa a se dedicar a ela. Editou, inclusive, um álbum com 25 gravuras em metal, com tiragem de 30 exemplares, lançado em 1965. Sem abandonar outros suportes e técnicas, entre 1974 e 1980 foi professor de gravura em metal no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. “Quisemos resgatar isso no Sued e ele ficou muito entusiasmado. São edições exclusivas da Mul.ti.plo, produzidas por nós, com tiragem de 20”, conta Stella Silva Ramos, sócia de Maria Cristina Magalhães Pinto na galeria.

Para o crítico de arte Paulo Sérgio Duarte, a obra de Sued sempre é surpreendente. Seja por sua inteligência como colorista, por sua pincelada que, a partir dos anos 1990 se torna mais expressiva, seja pela capacidade de inovar. “O que acho espantoso é que mesmo agora, com mais de 90 anos, ele consegue se renovar, na medida em que introduz movimentos inéditos no trabalho”, diz Duarte. Nesta exposição, o que também chama a atenção do consultor Maneco Muller é que, a essa altura, o artista não faz mais nenhum tipo de concessão. E isso o impulsiona ainda mais: “Suas telas, mais do que nunca, cismam em ficar na nossa cabeça. Você olha para a obra e, mesmo depois de um tempo, depois que você já está vendo outras coisas, ela permanece nos seus olhos”, diz, atribuindo isso à maestria de Sued com as cores.

No ano passado, ao completar 90 anos – também com uma exposição de trabalhos inéditos –, Eduardo Sued explicou, com seu característico bom humor, o porquê dessa longevidade artística: “Não existe uma ‘sensação diferente’. Noventa, 89, 25 anos, é tudo a mesma coisa. Apenas vivo há mais tempo”, disse o artista, que pouco olha para o “retrovisor da vida”. Sued só pensa adiante. Com a mente, os pincéis e os faróis iluminando o futuro.